da redação
s grandes indústrias farmacêuticas investem somas fantásticas para encontrar a solução da obesidade e da impotência, enquanto ignoram a tuberculose e a malária, doenças que matam mais de cinco milhões de pessoas a cada ano”. Quem acusa é Bernard Pecould, responsável pelas campanhas para acesso aos remédios essenciais, dos Médicos Sem Fronteiras, que trabalham em lugares de alto risco.
A desculpa das indústrias é que os novos remédios para Aids e doenças contagiosas são frutos de custosas e sofisticadas pesquisas que duram anos e, portanto, querem um retorno financeiro dos elevados royalties e anos de monopólio das patentes, para poderem continuar as pesquisas. Os países pobres, geralmente com o maior números de doentes, querem, por sua vez, a isenção do pagamento dos royalties e versões genéricas dos mesmos medicamentos.
Na verdade, pedem isenção para 325 medicamentos declarados como essenciais pela Organização Mundial da Saúde. Os Estados Unidos, prensados pelo lobby das indústrias farmacêuticas, opõem-se aos pedidos dos países pobres. Numa primeira proposta feita no Tribunal Mundial do livre Comércio, as indústrias estavam dispostas até a vender sem lucro os remédios antiaids aos países pobres, desde que se lhes reconhecesse o princípio da proteção da patente que impediria copiar esses remédios, por um período de 20 anos, assustadas pelo fato de que a África do Sul, já em 2001, começou a fabricar esse tipo de medicamento a preços bem inferiores.
Cerca de 30 indústrias farmacêuticas denunciaram a violação do contrato e, em 2002, os Estados Unidos bloquearam uma tentativa de acordo com medo de que, dominando a técnica, os países pobres poderiam “contrabandear seus remédios mais baratos até nos mercados de países ricos”, causando grande prejuízo às indústrias que tanto investiram em pesquisa.
O acordo ainda não foi selado, causando gravíssimos danos aos países mais pobres, enquanto países em desenvolvimento e com pesquisas avançadas, como a Índia, o Brasil e a África do Sul, conseguiram descobrir remédios mais em conta. Há denúncias bastante fundadas de que a Índia já esteja invadindo o mercado norte-americano com seus produtos farmacêuticos “pirateados”. Os países em desenvolvimento, liderados pelo Brasil, Índia e África do Sul, insistem em ter acesso a esses medicamentos e continuam fabricando remédios salva-vidas.
O presidente dos Médicos Sem Fronteiras, James Orbinski, reclama que “estamos cansados de ver homens, mulheres e crianças morrerem de Aids e outras doenças, sabendo que a cura existe e, se quisessem, esses medicamentos estariam disponíveis”, até para os países mais pobres.
MEDICAMENTOS
Só 20% dos medicamentos produzidos no mundo são vendidos nos países em desenvolvimento, todavia, eles abrigam 80% dos doentes da população global. Para exemplificar, mais claramente, 42% são consumidos nos Estados Unidos e somente 1%, em toda a África. Nos últimos 25 anos, 1.233 medicamentos foram lançados no mercado, mas somente 13 foram fabricados para curar doenças típicas dos países tropicais.
DOENÇAS
Mais de 2 bilhões de pessoas no mundo não têm acesso a cuidados médicos ou a medicamentos. Cerca de 18% das mortes no mundo são causadas por pneumonia, disenteria e tuberculose, sendo que, na África subsaariana, 50% ocorrem por causa de doenças infecciosas. Além disso, a cada ano, 15 milhões de vítimas de doenças provêm de 97% dos países menos desenvolvidos. Bastaria 1 bilhão de dólares para reduzir pela metade os casos de malária.
OS VÍRUS DOS POBRES
• AIDS
As estatísticas mundiais afirmam que 42 milhões de pessoas contraíram o vírus, sendo que 70% encontram-se na África. Nesses dados, incluem-se 3,2 milhões de crianças até 15 anos infectadas. Em 2002, morreram 3,1 milhões de aidéticos, entre os quais, 610 mil crianças.
• MALÁRIA
Calcula-se entre 300-500 milhões, ao ano, o número de novos casos. Entre 1-2 milhões de mortes acontecem todo ano; 90% só na África, sendo que, entre 1981 e 1997, os casos quadruplicaram.
• TUBERCULOSE
Estima-se em 50 milhões o número de doentes no mundo. Mais de 8,2 milhões de novos casos surgem a cada ano, com um aumento de 20% em relação aos anos 1990- 2000.
Mortes em 2002: 1,5 milhão.
Mortes em 2002: 1,5 milhão.
Fonte OMS / Médicos Sem Fronteiras – MSF