Durante os 44 anos de casada, Helena, 64, acostumou-se a tomar uma cervejinha com o marido todo fim de tarde. Juntos, os dois chegavam a consumir cinco garrafas por dia.
Só depois de procurar o Caps-AD (centro de atenção para dependentes químicos), em Ribeirão Preto (313 km de SP), ela percebeu que o hábito inocente a tornou viciada em álcool.
Helena, que preferiu não revelar seu nome verdadeiro, é apenas uma das muitas mulheres que aparecem nas estatísticas do centro.
O número de dependentes químicas –principalmente de álcool– que buscam pela primeira vez ajuda do Caps-AD cresceu 158% na comparação entre 2010 e 1996, quando o centro foi criado.
Nos primeiros sete meses deste ano, já há quase o mesmo número de mulheres atendidas do que em todo o ano passado (104 contra 111). O ritmo de crescimento entre mulheres é 15,5% maior do que entre os novos pacientes homens.
E, surpresa para a equipe do Caps-AD, entre as mulheres há também idosas: neste ano, são seis novas pacientes desse grupo em tratamento.
Segundo a coordenadora Gisela Oliveira Marchini, é comum, em algumas pacientes, o vício estar associado à depressão. De acordo com ela, a bebida acaba sendo um refúgio para a solidão na velhice.

Marcia Ribeiro/Folhapress
Helena (nome fictício), fazendo tapetes em Ribeirão Preto: um dos tratamentos contra a dependência do álcool
Helena (nome fictício), fazendo tapetes em Ribeirão Preto: um dos tratamentos contra a dependência do álcool
‘NINHO VAZIO’
“No caso das mulheres mais velhas, o alcoolismo acontece muitas vezes após a síndrome do ninho vazio, quando os filhos saem de casa, ou quando elas ficam viúvas”, diz a coordenadora.
Ela alerta para uma situação preocupante no serviço de saúde: a subnotificação de mulheres viciadas em álcool e drogas. “Por vergonha, [a mulher] não admite para o médico que bebe.”
O crescimento do vício entre as mulheres em Ribeirão acompanha uma tendência mundial. A afirmação é do psiquiatra da USP de Ribeirão, Erikson Furtado, coordenador do Pai-Pad, programa de pesquisa e assistência para álcool e drogas.
Na década de 80, pesquisas mostravam que 20% dos dependentes eram mulheres. Hoje elas são mais de 30%.
A alta de mulheres dependentes deve-se, segundo Furtado, a mudanças culturais, como a participação da mulher no mercado de trabalho e na vida social fora de casa.
Porém, elas precisam de atenção redobrada. Isso porque o dano do álcool no organismo feminino é maior em algumas situações.
Segundo Furtado, o metabolismo feminino é mais lento para digerir o álcool, que acaba circulando por mais tempo no sangue.
“Em alguns casos o corpo feminino tem mais rapidez para ter danos hepáticos e problemas como envelhecimento precoce”, afirma.
O álcool altera ciclos hormonais e, em grandes quantidades, pode interferir na eficácia de anticoncepcionais.
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